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A ousadia contra o conservadorismo, quem ganha nesta?

Pegando a idéia do maluco do Zé Felipe – Wäls Cervejas Especiais – que resolveu colocar no Beer Day uma de suas melhores cervejas a prova , a Quadruppel, contra uma das maiores lendas do estilo, a La Trappe Quafrupel e por que estava com saudades da namorada fotografar meus pratos e fazer um bom jantar à ela. Mesmo que alguns conservacionistas irão contra a minha escolha – e de muitos outros – a ousadia da cerveja Wäls se saiu melhor, com maior complexidade de sabores e aromas, e com maior equilíbrio de sabor. Resolvi colocar em teste as outras duas preciosidades destas marcas, as do estilo Dubbel.

O estilo dubbel nasceu na Abadia Trapista de Watmalle em 1856 para diferenciar da tradicional Ale da dieta diária dos monges. Elas são cervejas fortes em presença de malte, sabor torrado lembrado nozes e chocolate, pouco lúpulo. No aroma pode-se enmcontrar banana e frutas não cítricas.

O teste de harmonização aconteceu da seguinte forma: costelinha suína barbecue no prato, uma cerveja em cada taça, – foram taças diferentes,  para fazer também um teste de copos, mas não entrarei em detalhes neste momento –  na Tulipa a Wäls e no Bolleke, a La Trappe. A costelinha por ser gordurosa e com sabor marcante pede uma cerveja mais encorpada e com sabores marcantes. Com a adição do molho barbecue, a carne acaba ganhando um sabor mais marcante e adocicado, combinando bem com o estilo escolhido.

Primeiro, verifiquei aromas e logo após sabores de cada uma. A La Trappe, mais torrada, boa presença de malte, mais carbonatada que o normal. Já no aroma um leve banana, fruta passas, leve fermento (?) e álcool bem presente. Na Wäls, podemos encontrar um leve sabor adocicado, torrado, frutas passas – uvas passas, já que elas vão na formulação da cerveja – álcool bem inserido, mais seca e mais corpo que a La Trappe. No aroma, já podemos encontrar torrado, malte, uva-passas e álcool. No teste de sabores, a Wäls se pareceu mais complexa e mais saborosa que a La Trappe.

Na harmonização, cada uma teve sua peculiaridade. A La Trappe, com seu sabor torrado, combinou muito bem com o sabor da carne e contrastou muito bem com o molho. Teve um bom corpo para aguentar o prato e com a leve carbonatação, fez uma leve limpeza no paladar, preparando-o para mais uma garfada. Já a Wäls, fez uma bela harmonização por semelhança, casando muito bem o doce do prato com o doce da cerveja, o torrado de ambas e teve um bom corpo para aguentar o prato. O único defeito – se podemos classificar assim – da Wäls, é que ela é mais seca e deixou um leve resíduo do conjunto, chegando ao final do prato com uma leve interferência nos sabores, tanto da cerveja como do prato.

Ao meu ver, as duas se saíram muito bem e cada uma com sua peculiaridade. O que quis aqui não foi fazer uma competição, mas sim mostrar que cervejas do mesmo estilo podem ter suas diferenças e mesmo assim uma qualidade ímpar. Isso mostra também, que o mundo da cerveja não tem preconceitos e está livre para ser descoberto, seja por leigos ou por bons formadores de opinião. E o(s) campeão(ões) fomos nós, que podemos ter uma excelente cerveja brasileira e ainda poder ter o privilégio de tomar cervejas tão cobiçadas lá fora.

Receita:

500g de costela de suína

1 cebola média

3 dentes de alho

azeite de oliva

1 xícara (chá) de ketchup

1/2 xícara (chá) de suco de limão

2 colheres (sopa) de vinagre balsâmico

3 colheres (sopa) de açúcar mascavo

3 colheres (sopa) de molho inglês

sal  de pimenta-do-reino  a gosto

Modo de Preparo:

Em uma panela grande, coloque a costela para cozinhar  – com água e bastante sal  –  até que fique levemente macia.

Enquanto isso pique a cebola, o alho, refogue no azeite e junte o restante dos  ingredientes com uma xíxcara de água. Cozinhe até virar um molho encorpado.

Pré – aqueça o forno a 200º C.

Retire a costela da água e deixe esfriar. Acerte o sal e  “lambuze” a costela com o molho barbecue – pode ser com a mão mesmo, sem frescura alguma – e leve ao forno. Após 20 min, retire do forno e “lambuze” mais uma vez a carne – agora com um pincel de cozinha, senão irá se queimar – e leve mais uma vez ao forno. Após estar o molho caramelado e a carne macia, retire do forno e sirva imediatamente.

Pode acompanhar bata frita – no meu prato fiz um chips com batata-doce, já que a namorada adora – e arroz branco.

Fotos: Michele Meiato Xavier

Palmas para a cervejaria brasileira

Fiquei abismado com o que vi e provei no último sábado (27 de novembro) no Festival Brasileiro da Cerveja em Blumenau. O núcleo cervejeiro do Brasil esta realmente de parabéns.

Eduardo Passarelli

O Festival Brasileiro da Cerveja foi um evento que juntou, em um único local, micro-cervejarias, cervejeiros artesanais/caseiros, empórios dedicados à cerveja e restaurantes que têm como foco principal a bebida. Além disso, palestras gratuitas, como a do especialista em cervejas Edu Passarelli – que tivemos o prazer de acompanhar – discorrendo sobre Harmonização. Super atencioso com o público, até mesmo no momento que foi pressionado por Michele, a qual quis saber que cerveja seria ideal para acompanhar aquela massa instantânea chamada por mim de “Quinojo”.

O evento ocorreu dentro de um dos pavilhões do parque “Vila Germânia” – onde também é realizada a Oktoberfest. Temos que agradecer à “Vila Germânia” e prefeitura de Blumenau por serem tão representativas na cena cervejeira do país, propiciando ótimos eventos em prol da cultura.

Foi realmente algo absurdo o que aconteceu por lá: cervejas de vários estilos, métodos de produção e qualidade. Pudemos provar cervejas jamais vistas por aqui, como, por exemplo, uma Pumpkin Ale (estilo americano que é produzido para comemorar o  Halloween). Uma Imperial Stout, maturada por 6 meses com chips de carvalho de bourbon. Tudo isso produzido por cervejeiros caseiros, já que, infelizmente, só esses podem produzir algo assim, uma vez que que nossas “Leis” são tão ridículas sobre o assunto.

Logo que chegamos, fomos recebidos com muita gentileza – como sempre – pelo amigo Julio, do Empório São Patrício. Lá adquirimos a única breja não brasileira da noite: uma cerveja italiana – a famosa  Birra Baladin -, cuja linha foi feita em homenagem à família do cervejeiro. A degustada como café da manhã, acompanhada por um Fish and Chips do The Basement Pub, foi a Nora – em homenagem à esposa do mestre-cervejeiro -, cerveja com características marcantes de especiarias, corpo aveludado, licorosa e leve dulçor . Cerveja complexa, mas fácil de beber.

Pude provar, também, a Perigosa Double IPA, a primeira do estilo no Brasil. Super aromática – puxando para aromas como maracuja, bergamota, leve caramelado, lúpulo -, mas que em sabor acabou pecando, deixando um amargor cortante e reto, sem muita complexidade  de lúpulo.

Depois de muita conversa e o pit-stop feito, fomos até o estande da cervejaria Wäls, local onde tivemos as maiores surpresas do festival. Primeiro com a simpatia do Mestre-Cervejeiro José Felipe. Depois de muita conversa por twitter, avisei que estava no Festival e, assim que ele avistasse um cara de “3,00 m de altura” – nem é tanto assim, só 2,05m -, confirmasse que se tratava se mim. Assim que chegamos no estande,  “não precisa nem se apresentar”, dissem-me, puxou-me pelo braço e deu-me um forte abraço – aquele de amigos que há anos não se viam, sabe? –  dando risadas e dizendo que eu e @MicMX éramos alguns dos responsáveis pelo sucesso da cervejaria (como se a simpatia do cervejeiro e qualidade do produto já não fizessem por si só).

Após o puxa-saquismo dos dois, começou a degustação de suas belas cervejas. A primeira foi a FestWäls, uma Lager super leve, saborosa, refrescante, feita com dry-hopping e produzida com 5 lúpulos diferentes. Cerveja super aromática, fácil de beber e que, em minha opinião, deveria ser comercializada, sem medo de errar. Pudemos provar também a Quadruppel – preferida minha e da esposa -, a Trippel e a Dubbel, todas elas na pressão.

Os trabalhadores

Mas a maior surpresa f0i o presente trazido especialmente para nós (eu e Michele) e que tivemos o privilégio de ser dos poucos a provar:  a aclamada Wäls Brut. Uma das 4 cervejas no Mundo feita no estilo champanoise. Produzida com todo carinho pelo Felipe, feita a remuage duas vezes ao dia, sempre no mesmo horário. Cerveja fantástica em aroma, sabores e textura. Essa eu vou deixar vocês com água na boca, pois terá um post dedicado somente para ela – deixo vocês somente com os trabalhadores, que estão deixando está cerveja fantástica.

Ainda tive a oportunidade de provar uma Dubbel fresquinha, aberta especialmente após reclamação de nunca tê-la provado em sua qualidade. Provei e virei fã imediatamente, batendo lado a lado com a Quadruppel. José Felipe explicou que nunca havia provado esta cerveja em sua real qualidade, já que em sua produção há uvas-passas e, chegando aos mercados, não há o devido cuidado que ela requer, acabando por deteriorá-la. Triste isso, mas uma realidade brasileira: o descaso com os produtos alheios.

E foram mais alguns choppinhos e cervejas por conta de José Felipe. Uma ótima conversa e que me deixaram surpreendido com o amor que ele tem com suas cervejas, chegando a brigar com o irmão Thiago – que quer logo ganhar mercado, enquanto José prima pela qualidade. Ponto para o Zé. Ele me deixou intrigado com uma coisa e que tive que concordar: ” Brasil está criando caçadores de defeitos! Sempre tem uma coisa errada, nunca esta bom”. Infelizmente isso não é somente no Mundo da Cerveja e sim em  tudo. Brasileiro tem o prazer de dizer que aqui tudo que se faz é ruim. Defeito de quem não tem capacidade de chegar aos pés daquilo em que coloca defeito.

Michele ficou encantada com tudo o que viu e disse agora ser realmente fã de cervejas. Disse que sou o culpado e agora realmente vê que a qualidade e o amor que temos com nossas cervejas supera qualquer crítica pessimista sobre o assunto.

Tirando essa triste realidade brasileira, há muitas cervejas, algumas inferiores, sim, mas outras se mostrando surpreendentes. O Brasil está de parabéns, mostrando que, com parceria, humildade e simplicidade, é possível se criar uma cultura forte e resistente sobre o assunto. Logo essa cultura mostrará que queremos, sim, é qualidade e não quantidade – como dizem algumas publicidades.

Fotos by @MicMX

Wäls: “Uma bebida dos Deuses”


Hoje, sexta-feira, dia de “sorrir com o fígado”, como disse o monge do filme “Comer, Rezar, Amar” – que, por sinal, é um baita filme e serve até mesmo para marmanjo chorar – e, por isso, o post será em homenagem a uma das cervejarias de maior expressividade do Brasil, a Wäls Cervejas Especiais

A cervejaria fica em uma das regiões de maior manifestação na cena cervejeira do país: o estado de Minas Gerais. Lá que eles se encontram, mais precisamente em São Francisco, na conhecida Região da Pampulha.

No final dos anos 90 resolveram colocar à prova as grandes cervejarias e mostrar que as artesanais têm tanto poder quanto as de larga produção. Foi isso que conseguiram com cervejas de caráter único, nas quais o que está em jogo é a criatividade e a perfeição.

“Na vida, as melhores coisas são aquelas feitas com amor, dedicação e carinho. Foi pensando nisso que a Cervejaria Wäls se baseou para elaborar ‘uma bebida dos Deuses’”. Belas palavras, não?
E inspirados nisso eles conseguiram transformar o malte, o lúpulo, a água e os “bichinhos comedores de açúcares” em grandes cervejas.

Desde a primeira Wäls que apreciei, virei fã: uma Pilsen Bohemia. Genuína Pilsen, com características iguaizinhas àquelas que encontramos no país de sua origem: a República Tcheca. Seu amargor de lúpulo – bem equilibrado com os maltes especiais – não podia ser melhor.

Depois de todo o maravilhamento com essa Pilsen, ganhei dois exemplares da X-wäls assim que saiu no mercado. Essa deixou um pouco a desejar, confesso: leve, bom sabor de malte e leve lúpulo. Boa pedida para o verão escaldante de Floripa, mas nada demais.

Mas não me deixei abalar e fui atrás das demais cervejas da marca.
Experimentei uma Dubbel (cerveja Strong Ale escura), com sabor de frutas secas e amêndoas, assim como os respectivos aromas. Mas a apreciação foi igualmente prejudicada, pois estava oxidada. Isso ocorreu em duas oportunidades e, infelizmente, ainda não consegui realmente prova-lá.

Mas como sou alemão teimoso – só de sobrenome mesmo –, comprei mais um exemplar e que hoje será apreciado – ao menos vamos tentar – entre amigos.

Mesmo com esses empecilhos, busquei provar os outros estilos da cervejaria e esses, sim, ganharam meu gosto de vez e me fizeram virar fã número 1, com direito a seguir no twitter e “puxa-saquismos” merecidos.

A trippel é deliciosa – até mesmo a esposa/namorada virou fã, ainda que aprendendo a apreciar boas cervejas só porque começou a namorar este escriba. Super aromática, com ótimo equilíbrio do malte e amargor, paladar condimentado e uma bela cor dourada.

Mas a menina dos olhos, contudo – em minha modesta opinião -, é a Quadruppel. Uma das cervejas mais complexas que já pude apreciar. Seus aromas de frutas secas, toffe, malte, chocolate e seus sabores puxando para o toffe e chocolate, com amargor equilibrado, deixam-na “redonda”, com ótimo dinkability.

Esperamos que as próximas “crias”, que logo chegarão ao mercado – nova X-Wäls, Witbier e duas Bruts (estas para o ano que vem) – continuem na mesma qualidade e encantamento como as demais.

Para finalizar, deixo aqui uma dica de harmonização: Filé Mignon suíno, acompanhado de Tortei de Abóbora ao molho de Ale e açafrão.
Essa harmonização foi feita com uma Trippel, que caiu muito bem com o filé e, principalmente, com a massa, pelas características frutadas e condimentadas da abóbora. Esse molho poderá parecer amargo, isso é resultado de a cerveja conter mais lúpulo e ser levada ao fogo, ganhando destaque o seu amargor. O açafrão fará o trabalho de equilibrá-lo, bem como a cerveja ao harmonizar. Testem e depois comentem aqui o que acharam.

Aproveitem e alegrem seus fígados, almas e espíritos. Pelo menos neste momento de alegria todos os problemas serão pequenos.
Boa sexta e ótimo fim de semana.

Receita
500g de Mignon Suíno
400g de tortei de abóbora
Cerveja tipo Ale
1 colher de café de açafrão
250 ml de creme de leite
3 chalotas
Sal
Pimenta do Reino
Salvia
Manteiga
Preparo:
Corte o Mignom em medalhões, tempere com o sal, pimenta do reino moída e a salvia picada. Reserve.
Pique as chalotas em cubos bem pequenos, caso não achar chalotas pode ser trocada por uma cebola média. Branqueie na manteiga, sem deixar pegar cor, junte a cerveja e deixe reduzir.
Aqueça uma frigideira e sele os medalhões, todos os lados, em fogo alto na manteiga. Retitre da frigideira e leve ao forno médio – 200°C – para terminar a cocção.
Após a cerveja reduzir, junte o creme de leite, ferva por 5 min, até reduzir novamente pela metade e junte o açafrão. Tempere com sal e pimenta do reino.
Cozinhe o tortei até ficar al dente.
Só servir e apreciar.

Fotos comida by @MicMX